Uso exacerbado de telas por crianças, pode isso Arnaldo?

Se você conhece alguma criança que passa mais tempo no celular do que brincando, esse texto é pra você!

Em minha prática clínica tem se tornado comum aparecerem crianças que passam um tempo exacerbado frente às telas. Esse assunto, que logo após o início da “era das mídias digitais” começou a ser alvo de pesquisas, debates e polêmicas , será o assunto de hoje no Na Pauta.

Lendo um jornal, deparei-me com uma entrevista da Anna Lembke, psiquiatra da Universidade Stanford, onde ela comenta sobre seu livro Nação Dopamina: Por que o Excesso de Prazer Está Nos Deixando Infelizes e o que Podemos Fazer para Mudar (Editora Vestígio, 2022). Na entrevista, assim como no livro, Anna fala sobre a Dopamina e sua implicação no nosso cotidiano, como por exemplo no acesso a redes sociais.

Explicando brevemente, a dopamina é um neurotransmissor atuante no sistema nervoso central, responsável por funções como regulação de emoções, alívio de dor e também está presente em processos como o controle motor, prazer e atenção, sendo muito importante para o nosso desenvolvimento. Porém, altas doses da mesma, não causam efeitos muito interessantes.

O sistema de recompensa cerebral, por exemplo, é um grande exemplo da ação da dopamina no cérebro. Quando fazemos algo que gostamos, como assistir uma série ou comer um chocolate, há uma liberação de dopamina no cérebro, gerando prazer, euforia e recompensa. Consequentemente, buscamos mais essa sensação e muitas vezes deixamos de fazer algumas tarefas para “ver mais um episódio daquela serie”.

Isso ocorre também, no uso de aparelhos celulares, afinal, quantas vezes você já desbloqueou seu celular só até o momento em que está lendo esse texto? Pois é, se engana quem pensa que vício está somente ligado a drogas como álcool ou cigarro.

Em crianças, é muito frequente a utilização de celulares e TV´s para o consumo de desenhos, vídeos e jogos. O acesso a esses aparelhos têm ocorrido cada vez mais precocemente e na maioria das crianças. Tendo em vista que a liberação de dopamina ocorre também nesses momentos, é natural que a criança comece a querer ficar mais tempo utilizando esses aparelhos, e com a utilização exacerbada surgem problemas como diminuição da interação social, interação com o ambiente, gerando em muitos casos comportamentos agressivos, impulsivos, afetando drasticamente o desenvolvimento global da criança.

Portanto, muitas vezes o uso exagerado, é justificado pelos responsáveis com frases como “é o único meio de conseguir que a criança fique menos agitada”, ou “só assim para que eu possa trabalhar ou fazer minhas taferas”. Não culpo esses pais, sabemos que alterações no cotidiano causadas pela pandemia como o home office e escolas fechadas, a situação ficou complexa. Justamente por isso, trago aqui, algumas dicas.

Existem atividades que podem substituir o uso de telas. Atividades que promovem a liberação de dopamina e podem ser utilizadas para contribuir no desenvolvimento da criança. Atividades musicais, por exemplo, fazem esse tipo de liberação de uma maneira mais saudável e benéfica para a criança, pois com elas podemos trabalhar habilidades como: funções executivas, comunicação, ampliação de repertório, criatividade e habilidades inter e intrapessoais.

Introduza aos poucos na rotina da criança, atividades desse tipo, substituído e diminuído gradativamente o uso de telas.Vale ressaltar que a música deve ser cantada ou somente por áudio, e é de suma importância a participação dos pais e cuidadores durante as atividades. Estímulos de qualidades e recheados de carinho e afeto são cruciais para o desenvolvimento de nossas crianças.

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