Repertório Sonoro-Musical e a Importância de sua Ampliação

Você já parou para pensar em qual foi a primeira música que você gostou? Difícil pergunta, mas provavelmente alguma música vem a sua memória. Agora, faço outra, seu gosto musical mudou muito até chegar no seu gosto atual? Pode ser que sim, pode ser que não, fato é que nossa relação com a música se desenvolve conosco durante toda a vida. E é sobre isso que iremos falar hoje!

Levanto essas perguntas pois quero propor uma reflexão acerca do nosso repertório musical e a ampliação dele. O ser humano, aprende segundo Illeris (2018) “através da integração de dois processos muito diferentes: a interação entre o indivíduo e seu ambiente social, cultural ou material e um processo psicológico interno de elaboração e aquisição”. Músicas fazem parte deste contexto social e cultural do indivíduo, e quais delas serão ouvidas por ele estão, na maioria das vezes, intimamente ligadas a esse contexto. Porém, com a globalização e o surgimento de redes sociais e a ascensão tecnológica, essa relação pode sofrer alterações, como por exemplo as músicas que bombam naquele aplicativo famoso.

Portanto conforme crescemos e nos desenvolvemos, vamos entrando em contato com o ambiente e ele molda muitas características de nossa personalidade e comportamento, dependendo das culturas e tipo de estímulos que vamos tendo, moldando por exemplo nossas preferências sonoro-musicais. A problemática que levanto é a seguinte, e no caso das pessoas com deficiência, como isso ocorre?

As PCD´s que possuem maior independência, não tem grandes modificações nesse processo, mas em casos mais graves existem questões a serem analisadas. Quanto mais a patologia impede que a interação externa mencionada por Illeris ocorra, maiores alterações irão acontecer. Do ponto de vista musicoterapêutico, a aquisição de um repertório musical também sofrerá alterações. Muitas vezes, chegam para atendimento pacientes que possuem um histórico sonoro-musical (já falamos sobre o que é esse tal histórico no primeiro reels da página) limitado ou recheado de “preferências” que não mudam a anos.

Agora, imagine-se ouvindo as mesmas músicas por anos, além da possível rigidez gerada pela falta de ampliação e diversificação, em alguns casos a música pode se tornar desinteressante ou até mesmo um estímulo aversivo. Isso tudo acontece pois muitas vezes, a PCD não consegue independentemente escolher e vasculhar as plataformas em busca de novas canções. E é aí que entra o trabalho do musicoterapeuta, analisar e ampliar esse repertório, em conjunto com a família do paciente!

Mas por que devo me preocupar com isso? Qual a importância de ampliar o repertório sonoro-musical?

Porque nosso cérebro percebe padrões e tende a querer sempre buscar a mesma coisa a fim de gastar pouca energia. Contudo esse fortalecimento de via pode proporcionar rigidez, vocabulário musical escasso além de uma própria percepção sonora limitada. Em contrapartida a ampliação favorece a descoberta de novos timbres, padrões melódicos e rítmicos (ou quebra de padrões), entre outras possibilidades. A verdade é que a ampliação de repertório sonoro-musical traz diversos benefícios aos nossos pacientes, como diminuição de rigidez comportamental, ampliação de repertório verbal, social e cultural, interação com novos timbres, melodias, ritmos e etc.

Então, trabalhar a ampliação de repertório sonoro-musical nas sessões de musicoterapia em pacientes que necessitam desta é crucial, afinal, quantos de nossos pacientes tiveram a oportunidade de descobrir novas possibilidades musicais? Por isso a importância de proporcionarmos as oportunidades para esta vivência. Vale ressaltar que as preferências musicais do paciente não serão descartadas, mas sim ampliadas! E todo esse processo deve ser feito com delicadeza, organização e objetividade clínica.

Mas e aí, quantas oportunidades de ampliação de repertório vocês têm dado aos pacientes de vocês? E quais estratégias podemos utilizar para realizar essa ampliação?

Referências:

ILLERIS, Knud (org.). Teorias Contemporâneas da Aprendizagem. 1. ed. [S. l.]: Penso Editora, 2018. 278 p. ISBN 9780415473446/0415473446.

KANDEL, Eric et al. Princípios de neurociências-5. AMGH Editora, 2014