Seus alunos estão desmotivados? Veja como a neurociência e a música podem te ajudar!
Aqui estão 4 motivos para você aprender sobre neuromotricidade agora mesmo e melhorar o ânimo dos seus alunos usando movimento e música!
Segundo a Associação Brasileira de Música e Artes (ABRAMUS), quase 80% dos brasileiros costumam escutar música todos os dias! Você está nessa lista?
Usar a música associada ao movimento pode ser a potência que falta para seus alunos aprenderem enquanto se divertem. Como diria Carll Orff “Primeiro experimente, depois intelectualize”.
Quando ainda somos bebês, começamos nossa carreira musical arriscando cantar as primeiras linhas melódicas antes de começar a falar. Além disso, a percussão faz parte do nosso dia a dia, batemos as mãos nas superfícies, chacoalhamos os brinquedos e para tudo isso precisamos organizar e planejar o nosso movimento.
Por isso aqui vão 4 motivos para você aprender sobre música e movimento e transformar suas aulas em uma linda sinfonia:
1 – Movimentar-se é mais complexo do que você imagina
Para andar, escrever, chutar uma bola ou tocar um instrumento musical, precisamos fazer alguns ajustes motores sutis até alcançarmos um nível de destreza suficiente para executar o movimento e obter o resultado esperado. Para esse processo damos o nome de autorregulação.
A autorregulação pode ocorrer independente da consciência, mas em alguns casos podemos ajudar as crianças a partir da percepção de força e velocidade. A partir da compreensão ela tem mais possibilidades de desenvolver o repertório motor e se regular, adquirindo destreza suficiente para cumprir as tarefas do dia a dia com mais facilidade.
E onde a música entra em tudo isso? Ao fazermos movimentos como bater forte e fraco, rápido e lento, ajudamos a criança a compreender de maneira lúdica os mecanismos do movimento e usar mais ou menos força conforme cria repertório de movimento.
Se você leciona para crianças bem pequenas, pode associar batidas fortes e fracas com barulhão e barulhinho e o rápido e lento com correr da lebre ou andar da tartaruga.
Para os maiores, acompanhar músicas batendo palmas pode ser um excelente modo de promover a autorregulação.
2 – Movimentos viscerais e desempenho escolar estão intimamente ligados
Alguns movimentos do nosso corpo acontecem independente da nossa consciência. A respiração e frequência cardíaca são exemplos de movimentos viscerais involuntários. Mas o que isso tem a ver com aprendizagem?
Resumidamente, quando os alunos passam por momentos estressantes, como por exemplo antes de uma prova ou mesmo em um dia de apresentação de trabalho, a frequência cardíaca aumenta, bem como a frequência respiratória.
O aumento da frequência não depende da nossa vontade ou de algum comando nosso, ele simplesmente acontece e pode ser um forte indicativo de que estamos estressados.
Já a música pode proporcionar o efeito de redução das frequências. Estudos mostram que músicas lentas auxiliam na redução da frequência cardíaca e respiratória, bem como da pressão arterial sistólica. Assim, um bom jeito de reduzir a ansiedade dos pequenos e dos grandes pode ser escutar uma música antes das atividades, mas cuidado na hora da escolha do repertório, opte por músicas mais lentas e certifique-se de que os alunos tenham boas lembranças associadas para não causar o efeito contrário.
3 – Dançar conforme a música ajuda na concentração e na automatização dos movimentos
Se você é da turma do movimento, pode usar a música e a dança para chacoalhar o esqueleto e ajudar na memória. Essa é uma boa pedida para os momentos em que eles estão com uma má postura.
Embora escutar música lenta ajude na redução do estresse, não excluímos uma dança bem animada para aumentar a atenção. Ao dançar estimulamos equilíbrio, os ritmos compassados e a organização de movimentos mais complexos.
Também é importante saber que ao fazer um movimento você pode aprender ele e com o tempo executá-lo sem pensar. É o que acontece quando aprendemos a dirigir ou a levar um garfo na boca. A melhor maneira de criar um modelo interno e adaptar os movimentos é fazendo cada movimento bem lentamente até que ele fique preciso o suficiente para fazer mais rápido. Quanto mais lento, mais preciso é o movimento, por isso você pode jogar com eles batendo palmas e cantando uma música bem rápido e depois bem lento para que eles sintam a diferença e compreendam que quanto mais lento fizerem, maior a chance de acertar.
Ao término das atividades com dança e movimentos você pode incentivar o aluno a manter a postura mais correta e isso já vai ajudar bastante na concentração.
Isso ocorre porque ao sentar-se corretamente você evita o desconforto causado pela má postura e não precisa dividir sua atenção entre corrigir sua postura e ouvir o que o professor fala. Também ocorre que ao sentar de maneira inapropriada acabamos por reduzir a vigília e o cérebro aos poucos fica menos “ativo” do que quando estamos com a postura ereta. O sono surge e a cabeça escorada na mesa se torna mais interessante que a matéria ministrada. Intervalo para os alunos se alongarem, movimentarem e corrigirem a postura é excelente para a retomada da atenção.
Além disso, pesquisadores sugerem que uma das partes responsáveis por auxiliar nos movimentos, conhecida como gânglios da base, também pode estar ligada à forma como processamos os estímulos emocionais. Mas se é de emoção que estamos falando, se prepare para o próximo ítem!
4 – A emoção de aprender
Estudos apontam que o rendimento escolar aumenta quando os estudantes experimentam sentimentos positivos durante a aprendizagem. Motivação e engajamento são peças fundamentais para que eles aprofundem seu conhecimento. Aqui existem duas considerações a serem feitas:
Primeiro, você sabe o que é neurônio espelho? Bem, o neurônio espelho é responsável por auxiliar a gente na aprendizagem por imitação. Sabe quando uma pessoa cruza a perna e logo todas estão de pernas cruzadas? Pois é, esse é o neurônio espelho agindo. Sendo assim, quando alguém entra desanimado na sala de aula, a tendência é que todos desanimem juntos.
Segundo, temos um lugarzinho conhecido como sistema límbico, responsável por iniciar, dar manutenção, modular as emoções. É nesse lugar que os sentimentos positivos e negativos surgem e se regulam. Aqui também é onde nasce o desânimo que será apresentado pelo comportamento motor de cabeça baixa, expressão facial apática e a leve impressão que temos de que apenas o corpo do aluno está presente.
Então, como posso incentivar sentimentos positivos nos meus alunos e até mesmo dar um up nesses neurônios espelho?
Que tal compor uma música com o conteúdo da matéria a ser dada? Ela pode ser feita através de paródia (pegar uma música que já existe e modificar a letra) ou pode ser feita do início, caso tenha algum instrumentista na sala. Também vale apenas melodia e palmas! Deixe a criatividade fluir.
A criação musical proporciona sentimento de empoderamento e fortalecimento de sentimentos positivos. E aqui o neurônio espelho pode agir na imitação da coreografia montada junto com a letra e da risada dos colegas ao perceber o resultado final, enquanto o sistema límbico auxilia no reforço dos sentimentos positivos causados pela música.
E pra ajudar a gente memoriza letra de música com mais facilidade, mas a gente deixa esse assunto pra uma próxima!
BÔNUS – A dificuldade motora pode desestimular o estudo, mas calma que a música ajuda
Se sentimentos positivos ajudam a melhorar a performance, os sentimentos negativos podem levar a um mau rendimento e consequentemente à uma falta de estímulo para prosseguir com os estudos.
Como vimos também nos tópicos anteriores, a motricidade influencia diretamente na aprendizagem em vários aspectos e para todo movimento é necessária uma organização métrica. Seja ela dos dedos das mãos ou dos olhos.
Uma pesquisa realizada recentemente pela Dra. Nina Kraus revelou que dificuldades na alfabetização podem estar intimamente ligadas à organização de ritmo. Portanto, que tal incentivar palmas, marchas ou jogos um pouco mais complexos com ritmos antes de dar início às aulas que exijam motricidade fina ou leitura? Isso pode ajudar!
Referências
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