A música está presente na vida de todos nós e pode desempenhar diferentes papéis de acordo com a nossa intenção. É comum ouvirmos música para relaxar, para treinar, estudar, ler, trabalhar etc… De que maneira você utiliza a música no seu cotidiano? Você já parou para refletir sobre como a música pode influenciar o nosso comportamento?
As nossas preferências sonoro-musicais podem desempenhar um papel muito importante no ganho motivacional durante a realização de determinadas atividades. Esta é a principal função de um reforçador, que é considerado a base do comportamento, o qual pode ser controlado por suas consequências, ou seja, pelo que o acompanha.
Nossas ações, hábitos e costumes podem ser definidos por comportamento e tudo o que fazemos possui alguma relação de contingência. Segundo os pressupostos teóricos de B.F. Skinner (1974), o conceito de contingência é definido pela relação entre estímulo e resposta, e representa como determinados comportamentos surgem e se mantêm ao longo do tempo, destacando também a relevância do ambiente como o meio em que estas relações se estabelecem.
A maneira com que experienciamos a música pode influenciar diretamente ou indiretamente no modo em que nos comportamos. No meio acadêmico existem diversas pesquisas que se propõem a relacionar o estímulo musical com o comportamento humano, como por exemplo a influência da música ambiente no comportamento do consumidor (FERREIRA, 2008), a influência da música no comportamento social (SILVA et al., 2020), nas relações interpessoais (LLARI, 2006), entre outros.
A motivação está associada à vontade e ao interesse do indivíduo. A tendência é que, perante a estímulos prazerosos e reforçadores, ocorre a elevação do estado de humor e ânimo, e consequentemente um aumento no ganho motivacional. Com a música não é diferente:
“Enquanto outros estímulos despertam a conduta negativa ou positiva no homem, a música (quando escolhida adequadamente) consegue levá-lo a um estado de ânimo positivo”. (LEINING, 2008)
No campo teórico da Musicoterapia, Bruscia (2000) descreve o Método de Musicoterapia Receptiva e suas respectivas variações, que consistem no uso de experiências musicais envolvendo diferentes formas de escuta musical. Uma dessas variações é a Escuta Contingente, que é descrita como: “ouvir música como reforço contingente à mudança comportamental”, ou seja, utilizando a escuta musical como recurso para oferecer ganho motivacional, e em uma relação de contingência, incentivar a mudança comportamental.
Se pararmos para refletir, utilizamos a música como contingência em diversas situações do nosso cotidiano: na academia, na faxina, nos estudos, na hora de relaxar, na hora de acordar etc. Através do conhecimento teórico gerado pela Análise do Comportamento, podemos estabelecer relações entre estes estímulos e os comportamentos emitidos, os quais são classificados em dois tipos de condicionamento:
- Condicionamento Clássico (ou respondente): ocorre como reflexos, basicamente por questões naturais e fisiológicas, no qual órgãos sensoriais respondem a um estímulo no ambiente. Por exemplo, quando utilizamos o despertador para acordar: ao soar o som do alarme, nossos órgãos sensoriais captam o estímulo sonoro no ambiente e aumentam o nosso nível de alerta, fazendo com que o nosso corpo desperte.
- Condicionamento Operante: é o mecanismo pelo qual ocorre a maioria das nossas aprendizagens. As consequências das nossas ações podem ser punitivas ou reforçadoras, e tendem a modelar o nosso comportamento. É neste caso que se enquadra a Escuta Contingente. Um exemplo da utilidade desse mecanismo no nosso cotidiano é a utilização da música como reforçador, isto é, para aumentar o valor motivacional enquanto desempenhamos determinadas atividades que podem ser mais custosas ou desinteressantes, como por exemplo quando realizamos uma faxina em casa ou um treino na academia enquanto escutamos nossa playlist favorita.
É importante ressaltar que a música afeta o ouvinte de modo singular, ou seja, o que é considerado motivador para uma pessoa pode ser extremamente aversivo para outra. A individualidade e a preferência sonora-musical de cada indivíduo devem ser levadas em consideração, assim como seu contexto cultural, religioso etc.
Existe uma infinidade de atividades que podem ser atribuídas a música e inclusive inúmeras playlists musicais em plataformas de streaming, como o Spotify que classifica em diferentes gêneros e estilos musicais, diversas atividades e eventos da vida cotidiana. Te encorajo a explorar e passear por esse universo de possibilidades musicais e criar suas próprias playlists com a intenção de obter motivação e transformar momentos simples, ou até desinteressantes, em momentos mais especiais.
REFERÊNCIAS:
LEINING, Clotilde E. A Música e a Ciência se encontram: um estudo integrado entre a Música, a Ciência e a Musicoterapia. Curitiba: Juruá, 2008.
BRUSCIA, K. Definindo Musicoterapia. Rio de Janeiro. Segunda Edição, 2000.
SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. B. F. Skinner: teoria do reforço. In: SCHULTZ, D. P.; SCHULTZ, S. E. B. F. Teorias da Personalidade, 10ª ed. São Paulo, SP: Cengage Learning, 2015. p. 309-328.
Silva ALM, Anchieta MHM, Ferreira MA, Tavares ICL. A relação entre comportamento social em adolescentes e música: uma revisão sistemática. J Health Biol Sci. 2020 J; 8(1):1-7
LLARI, Beatriz MÚSICA, COMPORTAMENTO SOCIAL E RELAÇÕES INTERPESSOAIS Psicologia em Estudo, Maringá, v. 11, n. 1, p. 191-198, jan./abr. 2006
FERREIRA, D. C. S. Efeitos de música ambiente sobre o comportamento do
consumidor: análise comportamental do cenário de consumo. 2007. 120f. Tese
(Instituto de Psicologia) – Universidade de Brasília, Brasília.