Eu sou um ser musical?

Ainda sobre Stranger Things – Escutar música pode te salvar, mas e fazer música?

É isso mesmo, minha gente! Hoje não vou falar sobre o quanto a Kate Bush canta bem, o quanto eu amo as músicas dela e o quanto as músicas que eu escuto no meu spotify me fazem bem quando estou no metrô lotado

Queria hoje só trazer uma pequena reflexão sobre escutar em contraponto ao fazer uma música. Eu sei, eu sei, a Fernanda sempre levanta a bandeira do “vamos compor uma música, faça isso por você e pelo mundo”. Já até dei dica dos 4 acordes mágicos! (se você ainda não viu corre lá e depois confere)

Mas o que eu quero dizer é que às vezes sinto como se as pessoas se distanciassem da música com aquela famosa frase “ah, mas eu nunca estudei música, não sei tocar um instrumento”. Me lembro de ter visto uma vez uma reportagem na TV que dizia que uma grande parte das pessoas sabia tocar alguns acordes no violão, mas quando questionados diziam que não sabiam nada sobre música.

Hoje a minha fala é a favor de uma aproximação muito maior do que acreditar-se que é música. Eu falo sobre todos se lembrarem que em algum momento cantaram junto do cantor favorito em um show, ou no chuveiro. Em algum momento eu sei que você batucou na mesa enquanto escutava uma música que gosta, ou mais timidamente, bateu os pés.

Oh sim, mas você estava “fora do tempo”, “desafinado”. Então hoje peço licença, porque não sou capaz de escrever como Machado de Assis, portanto irei parar de escrever. E considerando que também sou incapaz de ter uma retórica tão boa quanto grandes vendedores irei me calar.

Cantar em conjunto, bater os pés enquanto alguém faz música, batucar uma mesa, é sim fazer música, muito além disso, é a nossa afirmação de que vivemos em conjunto, somos uma cultura, somos seres sociais que compartilham de uma única voz, um único ritmo naquele momento presente em que se canta ou toca uma canção em conjunto.

E adivinha? Nosso cérebro ama isso. A convivência, sentir-se pertencente faz com que sintomas de ansiedade reduzam, e eu nem precisaria citar um artigo científico para isso porque imagino que todos já tiveram a oportunidade de passar por um momento em que todos cantaram juntos (nem que seja dentro de uma igreja ou cantando parabéns), mas já que também trazemos dados confere lá o artigo “Loneliness as an active ingredient in preventing or alleviating youth anxiety and depression: a critical interpretative synthesis incorporating principles from rapid realist reviews”

Muito além dos estímulos cognitivos, das organizações rítmicas de movimentos, expressar-se e compartilhar um pouco de si com o todo enquanto o todo compartilha um pouco dele conosco é uma forma de ser pertencente e melhorar nossa qualidade de vida.

E só pra finalizar, não se preocupe se você perde o tempo ou desafina. Vou te contar um segredinho: os estúdios editam as músicas para que não haja erros. Sabe a modelo da capa da revista cheia de photoshop? Então, a sua música do spotify está tão maquiada quanto ela. Músicos erram, desafinam e não têm dentro de si um metrônomo e por isso também perdem o tempo, mas peço licença para repetir as palavras do meu grande amigo Abraão: “errar é uma oportunidade única para o improviso!”.

Referencias

https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34893578/#:~:text=Loneliness%20is%20a%20relatively%20common,and%20depression%20among%20young%20people.

ZUCKERKANDL, Victor. Sound and symbol. Princeton University Press, 1969.

CARVALHO, José Jorge de. Transformações da sensibilidade musical contemporânea. Horizontes antropológicos, v. 5, p. 53-91, 1999.