Precisamos falar sobre o I-Doser

O i-doser surgiu em meados dos anos 2000, coincidindo com o aumento da popularização da internet. Após alguns anos adormecido, ele voltou com tudo! Viralizando nos grupos de troca de mensagens e redes sociais, principalmente entre os adolescentes.

Mas o que é I-doser?

Para os usuários das redes sociais trata-se de uma “drog@” digital com os efeitos causados a partir da escuta de ondas sonoras específicas. Isso mesmo, são sonoridades que garantem sensações semelhantes ao uso de substâncias ilícitas. Mas isso é verdade?

Primeiro: essas sonoridades são frequências binaurais. Se você já buscou alguma vez “músicas para ganhar super foco” ou “ondas sonoras para dormir” já se deparou com essas frequências. Resumidamente, são sons próximos, como se fossem duas notas musicais quase iguais. O resultado dessa combinação de ondas é uma ilusão auditiva, causada pela tentativa de equalizar as duas frequências (falaremos melhor sobre isso em outro post! Fica ligado).

Segundo: uma das hipóteses é que as ondas do nosso cérebro entram em sincronia com essa onda sonora, o que poderia ativar as mesmas áreas que são ativadas com uso de substâncias, porém, ondas sonoras são mecânicas, ao passo que ondas cerebrais são eletromagnéticas. Tratam-se de tipos de ondas diferentes e por isso essa sincronização ainda é uma hipótese a ser estudada. Por outro lado, existem estudos com estímulos de ondas eletromagnéticas que têm bastante potencial para criar essa “sincronização” de ondas.

Terceiro: O I-doser provoca uma ampla discussão justamente por falta de estudos que provem sua eficácia (ou não). Contudo, existem sim estudos sobre o efeito de frequências binaurais em aspectos cognitivos específicos como atenção, ansiedade, memória e etc.

Por não existir protocolos como tempo de exposição ao som ou qual frequência deve ser utilizada, não existe “fórmula secreta” para usar essas frequências a nosso favor ou contra. Também não existem provas consistentes para afirmar que a estrutura cerebral pode ser modificada com essas ondas, sem contar que parte dos estudos são inconclusivos, o que dificulta ainda mais chegar a uma definição. Entretanto, em geral, estudos sugerem que existe uma probabilidade da atenção e memória serem potencializadas.

Quarto: sons, e mesmo a música, podem te levar a um estado meditativo e inclusive existe uma vertente da musicoterapia que se dedica a estudar os estados alterados de consciência a partir de escuta musical (alô produção, providencia um post pra gente sobre a Helen Bonny!). Esses estados de fato interferem na nossa emoção e até nos levam a imaginar e sentir, além de provocar sensações diferentes considerando o quão suscetível se está para um estado de sugestão (o quão disposto se está a sentir determinados efeitos) ou pelo próprio desconforto causado pela escuta de uma frequência constante, mas isso não é o suficiente para causar dependência ou provocar alterações químicas no cérebro igual os alucin*gen*s.

Mas se você disse que até música pode provocar estados alterados de consciência, qual é a diferença para uma substância química? E a resposta é: dr*g@s criam um grande pico de liberação de substâncias químicas cerebrais que ativam nosso sistema de recompensa, porém esse estímulo é tão grande que com o passar do tempo a pessoa torna-se insensível e por isso busca cada vez mais o mesmo estímulo, mas em doses maiores. Ainda que a música ative partes do cérebro e também estimule o sistema de recompensa, a intensidade de estímulos sonoros é muito menor do que a de um ent*rpecente ou alucin*geno.

Porém, fique atento! Mesmo que o I-doser provavelmente não cause dependência ou alterações estruturais, deve-se compreender que tanto a percepção de que está et*rpecido quanto dependência não são resultado apenas do uso de substâncias.

A percepção do indivíduo sobre os efeitos das substâncias, ou seja, as sensações que a pessoa pode vir a sentir, é uma soma do tipo de substância utilizada (estimulante, depressora ou alucin*gena), o ambiente em que se utiliza essa substância (em festa, em casa) e a expectativa que se cria ao usar. Dito isto, o comportamento de buscar ent*rpecentes traz em si uma preocupação maior do que os possíveis danos causados por uma escuta, seja porque ele pode gerar curiosidades sobre o uso de drog@s reais, como o indicativo de alguma questão psíquica ou social envolvida. Dessa forma, ao observar o uso de sons ou música com a finalidade de se “dr*gar” procure ajuda de profissionais como médicos, psicólogos e musicoterapeutas!

Agradecimento especial à querida amiga e psicologa @magnavigano que contribuiu imensamente com seus conhecimentos em dependência química e comportamento!

Referências

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